segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Alma...


Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi, nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma

Quem tem alma não tem calma
Quem vê é só o que vê
Quem sente não é quem é.
Atento ao que sou e vejo
Torno-me eles e não eu

Cada sonho meu ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem
Diverso, móbil e só

Não sei sentir-me onde estou
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo
O que passou a esquecer

Noto à margem do que li
Releio e digo: "Fui eu?"
Deus sabe porque o escreveu.

[fernando pessoa]

Alma nova... [zeca baleiro]

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